29 Março 2023
No Mar do Caribe, entre Porto Rico, Haiti e República Dominicana, outro cemitério de migrantes que fogem da fome, da violência e do colapso das instituições. Milhares de mortos nos últimos dez anos.
A reportagem é publicada por Il sismógrafo, 27-03-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
A convite do arcebispo de San Juan (Porto Rico), dom Roberto González Nieves, no último domingo, para participar do Via Sacra do Migrante, na ilha caribenha, muitos responderam e não apenas fiéis católicos. Ao longo do caminho que ia da ilha de Cabras a Toa Baja, muitos porto-riquenhos desfilaram em procissão para comemorar todos os haitianos e dominicanos que desapareceram no mar durante as travessias improvisadas com o objetivo de emigrar. Vários bispos do Haiti e da República Dominicana também participaram da procissão.
O arcebispo de San Juan, à frente da procissão, partiu da capela El Carmen em Toa Baja com cerca de quarenta fotografias de haitianos e dominicanos que morreram no mar durante as perigosas travessias em botes de borracha. As fotos foram depositadas na beira da praia da Ilha das Cabras.
Mapa da região do Mar do Caribe, onde ocorrem os naufrágios (Mapa: Reprodução)
"Basicamente, este é um ato de oração para o repouso eterno das almas de tantos que morreram na travessia de Santo Domingo e Haiti para o Porto Rico. Conhecemos as trágicas circunstâncias que levaram essas pessoas a deixar sua pátria”, explicou dom González Nieves na véspera da celebração. Além disso, o prelado contou ter formado uma comissão composta por sacerdotes, religiosas e leigos dominicanos e haitianos para enfrentar pastoralmente essa emergência migratória e mostrar a solidariedade das pessoas.
Dom Pierre-André Dumas, bispo da diocese haitiana de Anse-a-Veau-Miragoane, e um bispo dominicano, dom Jesús Castro Marte, da diocese de Nossa Senhora de Altagracia, em Higuey, participaram da Via Sacra ao lado de muitos fiéis que queriam compartilhar sua proximidade com esses países. O Haiti fica a cerca de 300 km de Porto Rico; e a República Dominicana 600 km aproximadamente.
A insegurança e a instabilidade política agora crônicas no Haiti causaram um fluxo cada vez maior de migrantes para Porto Rico e outros destinos. É uma situação criada pela fome e pela exploração do trabalho que os haitianos sofrem há muitas décadas. No caso dos dominicanos, que buscam melhorar suas condições de vida e enfrentar o custo crescente dos recursos alimentares e dos bens de primeira necessidade, essas dinâmicas não são novas. Em ambos os países, o colapso dos sistemas de saúde é também uma razão fundamental para a emigração.
“Eles não querem deixar a sua pátria, mas é sobretudo por razões políticas e econômicas que devem sair, especialmente no Haiti, onde o governo e as estruturas do país já desmoronaram. Milhares e milhares de pessoas morreram durante essas viagens da esperança. Ou seja, existe um cemitério no fundo do mar entre o Haiti, a República Dominicana e Porto Rico”, observou amargamente o arcebispo de San Juan.
Segundo as estatísticas das associações independentes nesse triângulo caribenho, nos últimos dez anos, em média, pelo menos 300 pessoas desapareceram, ou seja, morreram.
A procissão contou com a presença dos familiares de 11 mulheres haitianas que morreram em junho passado. O prelado porto-riquenho explicou: "Queremos sensibilizar para essa situação e sentirmo-nos irmãos e irmãs, solidários com aqueles que arriscam a vida para a sua dignidade humana seja tutelada. (...) Vi que as coisas não melhoraram. Eu estava em Porto Princípe 10 dias após o terremoto (em 2010). Voltei alguns anos depois para a posse do novo arcebispo dessa capital e não vi grandes melhoras... como se o terremoto de 13 anos atrás tivesse acontecido 13 meses atrás”.
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Uma “Via Sacra do migrante” em memória de haitianos e dominicanos mortos no mar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU